Post published:19/08/2013
Certo dia, antes de iniciarmos uma “gira pública” quinzenal, fui interpelado por um irmão assistente que, com muito jeito, ao se aproximar de mim, perguntou: Marashitan, você não se importa se eu lhe fizer uma pergunta? Prontamente, respondi que não! Só não esperava que a pergunta fosse me desconcertar, já que imaginávamos que ela seria simples e não complicada, tendo em vista a sinceridade do interlocutor e as dúvidas que, quase sempre, assolam os umbandistas no dia a dia de terreiro!
– Marashitan, já li e pesquisei sobre os vários assuntos pertinentes à Umbanda, inclusive, tive a oportunidade de visitar diversos lugares onde se pratica o culto aos Orixás e invocam os enviados, ditos como ancestrais. Embora, eu não esteja vinculado a nenhuma casa, no sentido literal da mediunidade, não duvido da grandiosidade de Deus por tudo que já pude observar, se considerada através da chamada Onipresença espiritual, principalmente, quando o fenômeno é manifestado por guias de luz (Criança, Caboclo, Pai Velho etc). Na verdade, sem muito rodeio, a dúvida que tenho já me persegue há um bom tempo e acredite, ainda não encontrei a resposta. Talvez você possa me ajudar…
Por que percebemos que é tão difícil ser um “bom umbandista”, se temos como exemplos as atitudes e ensinamentos dos “Guias Espirituais”? Sabemos que eles se manifestam em nome da espiritualidade representando diretamente o Sagrado nos inúmeros templos e terreiros do Brasil. Não são eles, educadores, na condição de “professores mestres”, detentores de inigualáveis saberes, além de profundos conhecedores das mazelas do espírito humano, que chafurdado nos erros e equivocado pela ignorância, expia dores, arrastando-se pela esteira da evolução? Caso não queira responder-me agora, conversaremos em outro momento!
Lembro-me, perfeitamente, de ter demorado alguns segundos sem manifestar-me, tempo que me pareceu uma eternidade. Antes, porém, passou um turbilhão de falsas respostas pela minha mente. Ser um bom umbandista é… “engoli seco”, porque não tinha certeza e convicção da resposta que iria dar ao expressar meu pensamento.
Num átimo de segundo, passaram pela minha mente lembranças de fragmentos de um texto que havia escrito sob a inspiração de um amigo espiritual, quando tive que enfrentar o mesmo dilema, época em que iniciava o meu aprendizado na condição de discípulo. Logo, respondi ao interlocutor que não tinha a resposta e sim um texto que, talvez, poderia ajudá-lo a encontrar a resposta, caso assim quisesse. Ele, apenas, concordou com um gesto de cabeça e depois me perguntou o dia em que poderia pegá-lo.
Faço questão de compartilhar o texto mencionado com os leitores, pois me foi bastante útil nos momentos de desânimo, incerteza, dúvidas etc. Gostaria, apenas, de ressaltar que o amigo espiritual que nos transmitiu os ensinamentos, Castro Lopes, é um dos servidores fiéis de Ogum Matinata, espírito que vez ou outra nos aparece, via sensibilidade mediúnica, nos ritos de “Louvação ao Orixá Ogum”, que acontecem nas terças-feiras.
Quando lhe é permitido, geralmente, nos presenteia com uma mensagem de incentivo à caminhada evolutiva.
Provavelmente, médiuns, praticantes e simpatizantes da comunidade terreiro, que integram o movimento umbandista, já tenham feito tal questionamento a si mesmos ou a outros “doutos da banda”. Dizia-nos o dileto mentor do texto que, não raras vezes, foi interpelado e quando percebia, já estava envolvido pelas “vibrações mentais” dos médiuns que refletiam sobre a condição de sensitivo e, principalmente, sobre a atuação e contribuição dele àqueles que buscavam se autoconhecer, a fim de conquistarem a tão almejada evolução espiritual.
“Do plano espiritual, podemos compartilhar com os irmãos somente do ponto de vista de aprendiz, bem depois de sermos integrados à equipe de um verdadeiro Espírito, com ordens e direitos de trabalho, sobre a coletividade e, especialmente, sobre a específica comunidade vinculada ao templo.”1
Feitas as devidas considerações, esperamos contribuir com o pouco que já alcançamos, embora saibamos que a resposta não colocará fim aos questionamentos de todos, mas é verdadeira, e foi por meio desse ensinamento que iniciamos os primeiros passos, os quais ainda continuam!
Segue abaixo o aludido texto:
O BOM UMBANDISTA
O BOM UMBANDISTA não fala que é, mas demonstra, em suas atitudes diárias, harmonia, seguindo o RITO DA VIDA fora e dentro do Templo, espaços, que, verdadeiramente, lhe oportuniza exemplificar o que aprendeu.
Não tem vergonha de professar a fé em Deus e utilizando-se do SAGRADO com INTELIGÊNCIA defende seus ideais sem agredir o outro irmão, mas sempre de forma equilibrada e estabilizada, demonstrando racionalidade emocional.
Ao seguir os ensinamentos do Cristo Jesus, não perde a direção do leme e, em consonância com as palavras do Mestre dos mestres, segue à risca o lema:
“Basta, antes, agradar a Deus do que aos homens.”
Enfrenta dificuldades, percalços, mas não se deixa tombar pelos “ismos” diversos. Tal como um “cireneu” abraça a cruz e segue avante, rompendo obstáculos, mesmo sabendo que, em determinados momentos, passará por testes, em que os caminhos mostrar-se-ão íngremes e até martirizantes. Renova o fôlego e continua a caminhada sem esmorecer. Acredita na PROVIDÊNCIA DIVINA para uma vez mais brilhar na FÉ, pois não duvida da certeza do que lhe vem à mente:
“Se Deus é por mim, quem será contra mim!”
Ao se restabelecer, olha o horizonte, percebe na LUZ que lhe ensina valorizar os amigos e reconhecer a força dos inimigos. Observa que a contingência de muitos dos que caminham ao lado pode tornar-se obstáculo, mas, atento, não perde o foco ou o objetivo que a empreitada lhe exige. Vigilante, não descuida, já sabendo que um dia o corpo físico perecerá. Recorda da INICIAÇÃO, a qual um dia foi convidado a experimentar. Como um bandeirante da própria ventura, não se faz rogar, percebendo que o grande desafio da existência humana é vencer a morte.
“Se eu não temo a morte, ao que é que vou temer!”
O BOM UMBANDISTA, quando em introspecção, comunga com os irmãos de caminhada quando são chamados à fé, para dar testemunho na condição de centelha divina. Recorda que o grande dilema da humanidade é VIVER sem morrer, para que o ciclo não se perca na temporalidade! Em comunhão com a “mente universal”, afirma que é ESPÍRITO e não, apenas, ser humano. Experimenta a energia pela matéria até perceber que a “treva” não prevalece sobre a “luz”, eis que dominada pelo espírito imortal.
Finalmente, acredita que ser um bom umbandista é buscar respostas no trabalho, a fim de alcançar a voz da consciência que objetiva a caminhada à pátria da luz, no reencontro com a SABEDORIA e com o AMOR.
Castro Lopes
Um espírito amigo.
Correção Ortográfica:Cleane Drumond
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