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O Rito – Importância Prática e Mística para o Movimento Umbandista

  • Post published:27/07/2012

O presente trabalho tem como objetivo esclarecer os adeptos e simpatizantes umbandistas da importância dos ritos como processo facilitador na busca pela Espiritualidade.

Embora os ritos sejam objeto de críticas dos adversos do movimento umbandista, indiscutivelmente, a Umbanda os tem como um dos fundamentos imprescindíveis à sua rito-liturgia. Variam em detrimento dos “graus de consciência”[1] do culto ao sagrado nos santuários. Impossível imaginar uma “gira de Umbanda” sem um ritual.

Entendemos que a ritualística é uma característica comum utilizada pelas religiões, a fim de que seus professantes possam alcançar o êxtase do contato espiritual. Por isso, a prática comporta a manifestação da diversidade com que o ser humano cultua e expressa o sagrado. No entanto, dependendo da prática ritual adotada pela “comunidade de santo”[2], a ritualística poderá influenciar o participante de forma positiva ou negativa.

Para nós, da escola umbandista, fé e rito são “temperos”de uma mesma verdade que possui sua doutrina adaptada à diversidade. Por este viés, o processo ritual[3] leva o ser humano ao aprimoramento de sua verdade essencial, progressivamente, manifestada na transcendência do espírito. Este mergulho interno faz com que a consciência se manifeste pelo movimento do interiorizar para exteriorizar. A isso, chamamos de busca, ou seja, ampliação da percepção da realidade. Sem muito rebuscar, é o que entendemos por Espiritualidade.

Com a palavra (Neto, 2003), ao falar de Escolas, diversidade, visões, ritos, doutrina: “O conceito de Escolas das Religiões Afro-brasileiras foi desenvolvido por F. Rivas Neto. O autor sustenta, por exemplo, que na Umbanda: ‘(…) pela diversidade dos seus adeptos, há também uma diversidade de ritos e de formas de transmissão do conhecimento. A essas várias formas de entendimento e vivência da Umbanda denominamos escolas ou segmentos. (…) As várias escolas correspondem a visões, umas voltadas mais aos aspectos míticos e outras mais voltadas à essência espiritual, abstrata. Embora não haja consenso quanto à ritualística, que são várias formas de interpretar e manifestar a doutrina, a essência de todos é a mesma e todos são legitimamente denominados umbandistas.’”[4] Ao imaginarmos uma “gira de umbanda”, não é difícil entender o porquê de o Movimento Umbandista ser, hoje, um extraordinário abarcador de consciência. Neste contexto, os templos-terreiros cumprem sua função acolhedora e não discriminadora quando recebem todos, independente da fé que professam, ou grau de consciência que apresentam.


Dessa forma, os rituais de umbanda, tais como conhecemos, tornam-se caminhos por onde os Orixás e seus diletos Ancestrais[5], pelo poder volitivo,[6]ditamo ritmo e o ciclo que disciplinam e conduzem os chamados adeptos e consulente à evolução. Assim, fica demonstrado porque fé, rito e consciência[7] fazem parte de um mesmo universo religioso, imprescindível à transcendência do ser humano.

Vejamos o que nos diz Stanislav Grof (1994, p. 33), um dos fundadores da psicologia transpessoal, com relação à consciência:

“Hoje acredito firmemente que a consciência é mais que um subproduto dos processos neurofisiológicos e bronquímecos do cérebro humano. Vejo a consciência e a psique humana como expressões e reflexos de uma inteligência cósmica que permeia todo o universo e a existência… estou agora convencido de que nossa consciência individual nos liga não apenas a nosso meio ambiente e a vários períodos do passado mas, também, a eventos muito além do alcance dos sentidos físicos, a outras épocas históricas, à natureza e ao cosmos.”[8]

Como dissemos, os ritos são caminhos que ditam ciclo e ritmo cujas frequências permitem romper com os referenciais rígidos da noção de tempo e espaço, a fim de que a fé seja combustível a mover, em essência, os espíritos no reencontro com a própria consciência. No “afrouxar das amarras espirituais”, cores, músicas, cheiros, gostos etc, dão o “tom” que ascende à mente, acorda o coração e fortalece o corpo do ser espiritual.

Paradoxalmente, ao contrário dos que afirmam os perseguidores e difamadores da umbanda, os ritos aproximam a Humanidade de baixo com a Humanidade de cima. Dessa forma, mortos e vivos rompem com os limites que obstaculizavam o exercício da espiritualidade como verdadeira religião do ser humano. Aliás, na Umbanda, nos seus templos-terreiros, ambientes sagrados, plural e diversos por excelência, o ser humano experimenta através dos ritos a transcendência. É no templo, participando do rito, que o umbandista vivencia sua fé para, em contato como os espíritos, resgatara sua cidadania espiritual.

Indiscutivelmente, na condição de umbandista praticante, afirmamos que o rito é porta que se abre à “Pátria da Luz[9]”nos convidando a perceber o Sagrado que, por extensão, não deixa de ser a manifestação da Divindade. Nesse momento, a umbanda se torna o palco da luz espiritual de Tupã[10] que, revelada e traduzida por intermédio de sua hierarquia espiritual, rompe com os limites dimensionais e nos chama à realidade do Espírito.

Estes são apontamentos cujas questões são formuladas na intenção de fomentar a reflexão sobre o presente tema. Esperamos que a iniciativa seja estímulo ao estudo do rito e, quem sabe, possa ser porta aberta aos interessados que buscam pesquisar e aprender sobre a ancestral doutrina de Umbanda.

2. Conceitos

Rito – Práticas de atos concatenados que buscam, em seu fim último, permitir ao ser humano que entre em contato com o Sagrado. No contexto religioso, entendemos que o rito serve de percurso, caminho que conduz o umbandista ou o simpatizante participante ao contato e aprimoramento espiritual. É a forma externa da qual o umbandista se utiliza para exercitar a Espiritualidade.

Movimento Umbandista –Diz-se da “Providência Divina” que, exercida por mútua atividade sagrada entre espíritos e médiuns, busca pelo exercício da Espiritualidade a evolução da ideia e entendimento da Umbanda. É o movimento restaurador da Umbanda, ou seja, do “Conjunto das Leis de Deus”.

Umbanda–Literalmente dizendo é o Conjunto das Leis de Deus.

3. Considerações Iniciais

Incontestavelmente, a partir do dia em que a Luz de Umbanda ressurgiu em solo brasileiro para cumprir, em nome do Cristo Jesus e Deus (Tupã, Zambi, Yrê-Ayê etc), o desiderato futuro do promissor movimento restaurador da consciência espiritual do Ser Humano, muitas coisas mudaram, principalmente, no contexto da religiosidade do povo brasileiro. Essas mudanças previamente traçadas pela Espiritualidade na “dimensão da LUZ” ocorreram e ainda ocorrem por processo descendente, influenciando os vários planos de manifestação espiritual, que se configuraram da sutileza mental a mais densa das energias da matéria.

Feitas essas considerações que entendemos pertinentes, creio que podemos avançar na exposição de nosso pensamento, sem maiores embaraços ao entendimento do porquê das diversidades, característica marcante dos ritos de Umbanda.

Para não estendermos demais a parte introdutória, destacamos a citação abaixo: “Ritualismo[11] vem de ritual. Ritual vem de rito. O rito está ligado ao mito[12]. O mito vem da mitologia. A mitologia, por sua vez, nada mais é do que um conjunto de mitos. Esta correlação de ideias mostra que um elemento nunca está isolado. Ele faz parte de uma ideia mais ampla.” Vejamos um conceito de ritodado por Thines(1984), deveras utilizado em citações, tal como fazemos agora:

“Ato religioso simbólico e institucionalizado cuja eficácia é de ordem extra-empírica, pelo menos parcialmente. Para realizar este ato, utilizam-se, por vezes, objetos. Do ponto de vista da antropologia, o rito visa a fazer viver por uma coletividade mitos religiosos ou sociais, ou, pelo menos, permitir-lhe representar crenças mágicas. Em outras palavras, regras e cerimônias que se devem observar na prática de uma religião.”[13] 4. Teoria e Prática Umbandista

Iniciamos a temática falando que os ritos agem como processo canalizador e facilitador de contato com os espíritos na busca pela Espiritualidade.

Assim, todo rito em sua parte mística traduz uma ideia. Em se tratando de umbanda, creio que, ao externarmos nossa fé na força espiritual, manifestamos o lado místico que se materializa ao evidenciar o contato com os espíritos evocados e invocados. Dessa forma, buscamos o contato com os ilustres ancestrais que representam a Divindade pelo processo chamado mediunidade.

É importante, antes de qualquer coisa, não ignorarmos que um rito de umbanda por mais simples que seja, possui sua parte estruturada em uma teoria possível de ser praticada. Neste caso, a manifestação de um ritual demonstra que não existe um rito que não tenha sua parte teórica e prática previamente pensada. Caso contrário, seria provocar o invisível sem conhecê-lo…

Assim, para nós, teoria e prática umbandista são espécies de um mesmo gênero chamado rito cuja mística ritualística possui sua parte visível e invisível, que nem sempre essencialmente é percebida pelos assistentes presentes durante um ritual de terreiro.

4.1 Aspectos Exotéricos e Esotéricos de um Rito

Como mencionamos linhas acima, os aspectos visíveis ou invisíveis de um rito é que dão as características que aqui chamamos de exotéricas e esotéricas.

Portanto, essencialmente dizendo, o que é percebido não é velado e o que é velado, é considerado esotérico, por isso não é percebido. Consequentemente, a variação do esoterismo das ritualísticas praticadas pelos umbandistas poderá caracterizar um maior ou menor grau de aprofundamento para com as coisas do espiritual.

Lado outro, como regra geral, o exoterismo de umbanda possui um duplo aspecto que, em tese, resume-se em tudo aquilo que durante um rito propositalmente é compartilhado, ou seja, mostrado ou não. Isso traduz uma das caraterísticas principais que enfatiza a diversidade de rituais, dentro do movimento umbandista. Evidentemente, que a citada diversidade dos ritos do movimento umbandista demonstra, a princípio, intrínseca ligação com a pluralidade social de seus professantes. Para tanto, um ritual pode ou não traduzir o grau de consciência de sua coletividade terreiro, ou comunidade de santo.

Dessa forma,a ritualística de cada grupo exterioriza o Sagrado quando manifestam coletivamente sua fé. Assim, uma ritualística pode estar mais evidenciada pelos fundamentos essenciais ou materiais. Nesse caso, é perfeitamente possível que determinados “Eros[14]” de um rito possam, ou não, ser percebidos pelos presentes durante a ritualística.

O ideal é que, durante os ritos, haja prevalência da essência sobre a forma e não o contrário. Isso não implica dizer que os segredos de uma ritualística serão obrigatoriamente percebidos.

5. A Gira de Umbanda

Entendemos que a gira de Umbanda traduz movimento de energias, ou seja, intercâmbio que se estabelece entre o Mundo dos espíritos e o Mundo dos humanos.

Nesse intercâmbio, o processo é dirigido pelo Mentor Guia, de forma que seja fenomenizado em seus aspectos cósmicos para enfatizar a vida. Dessa forma, a gira ou ritual de umbanda enfatizará o espírito em essência, existência e substância com prevalência do Sagrado nas três etapas.

Pelo mistério, a vida é retraduzida numa mística de construção, mantença e destruição. Essa sistemática ritualística permite observar, pelos arquétipos utilizados pelos mentores da Umbanda, a infância, juventude, velhice e morte.

Por este contexto, fica mais fácil entender o porquê de todos se sentirem acolhidos quando vão a uma gira de Umbanda. Ainda que a pluralidade do público presente seja evidente, dando-nos a impressão de tumulto, o rito progressivamente acontece e, ao final, todos saem satisfeitos.

Isso explica o porquê de a umbanda imitar a vida, uma vez que, quando em sua manifestação ritual, apresentam-se pela via mediúnica as entidades espirituais, os êres (criança), Caboclos (jovens), Pais Velhos (senilidade) e os Exu (morte).

5.1 As Etapas de um Rito

Um ritual para ser completo, entendemos, deve ter início, meio e fim. No início de um rito, busca-se evocar as forças espirituais que estarão predominando sobre todos.

Após esse recurso, o objetivo é fazer com que a movimentação das energias espirituais beneficie todos.

Por fim, é importantíssimo fechar a porta dimensional que foi aberta.

6. O Atendimento Mediúnico

É comum que cada templo adote uma sistemática de atendimento mediúnico. Por isso, raras vezes encontramos rituais iguais.

Geralmente, o Mentor que comanda os “trabalhos espirituais” é quem dá as coordenadas de como o atendimento assistencial, por intermédio dos espíritos, deve acontecer. Dentro da mística de Umbanda, a praxe é que a manifestação espiritual ocorra por intermédio de um sensitivo, que atenderá o consulente através de passes, aconselhamento ou outras práticas magísticas com fins bem definidos.

Verdadeiramente, o que buscam alcançar os guias espirituais é possibilitar a cura mental, astral e até mesmo física daqueles que os procuram. Para tanto, a postura dos integrantes de uma corrente mediúnica é fundamental no objetivo visado.

Sabemos que a conduta individual de um médium quase sempre reflete na coletividade, tanto dentro como fora do terreiro. Assim, preconizamos a disciplina nas atividades realizadas durante o ritual, a dedicação aos ensinamentos transmitidos pela espiritualidade e a honestidade para com os mentores, que são fundamentos inegáveis para um bom desempenho mediúnico.

A atenção dada a esses fundamentos permite que um ritual seja harmônico, visto que traduz a estabilidade e equilíbrio de seus integrantes.

7. Conclusão

Não negamos que o sincretismo que impera nos terreiros ainda influencia muitos ritos de umbanda. Isso decorre do processo de assimilação e integração das várias culturas étnicas (índio, branco e negro), que se fundiram pelo aspecto religioso do movimento umbandista.

Essa “mistura”, mais propriamente chamada de sincretismo, foi quem mais contribuiu para o momento abarcador relacionado à primeira fase do Orixá Ogum, o que justifica a diversidade ritualística que predomina em todo território brasileiro.

Além do mais, embora alguns considerem o movimento umbandista carregado de ritos, indiscutivelmente, esses são importantes na amortização do grau de consciência da comunidade umbandista.

Para tanto, urge que os ritos sejam predominantemente voltados para a realidade essencial do espírito, o que, no momento, não invalidam os aspectos materiais das ritualísticas.

Em Síntese, acreditamos que os ritos traduzem as várias percepções do Sagrado, permitindo assim, uma visão do todo Universal, o que não invalida a visão espiritual.

8. Bibliografia Utilizada RIVAS NETO, F. Sacerdote, Mago e Médico: cura e autocura umbandista. São Paulo: Ícone. 2003, p. 459-460. GROF, Stanislav. A mente holotrópica. Rio de Janeiro: Ed. Rocco, 1994. THINES, G., LEMPEREUR, A. Dicionário Geral das Ciências Humanas. Lisboa: Edições 70, 1984

*Correção ortográfica e gramatical: Cleane Drumond [1] Estágios sucessivos e progressivos de percepção da realidade. [2]Mesmo que coletividade-terreiro, ou seja, pessoas que seguem os ensinamentos propugnados pelo Templo. [3] Conjunto de práticas consagradas pelo uso e/ou normas, e que devem ser observadas de forma invariável em ocasiões determinadas. [4]RIVAS NETO, F. Sacerdote, Mago e Médico: cura e autocura umbandista. São Paulo: Ícone. 2003, p. 459-460. [5] Diz-se dos mentores que se apresentam nos arquétipos de Criança, Caboclo, Pais Velhos e Exus. [6] Vontade. [7]Ciência de si mesmo.Embora, convencionalmente, ela seja considerada um produto do cérebro físico, entendemos que assim não é, já que acreditamos que a nossa consciência pode ser vista como uma individualização da consciência universal, que se manifesta e interage com a matéria através do cérebro. [8] GROF, Stanislav. A mente holotrópica. Rio de Janeiro: Ed. Rocco, 1994. [9]Aruanda. [10] Divindade Suprema do Tronco Tupi e mais tarde dos Tupinambás. É a nomenclatura mais utilizada dentro do Movimento Umbandista. [11] Conjunto de ritos, cerimônias, cujo significado veicula uma ideia. [12]Significado simbólico, que faz uso de fantasias ou fábulas para velar algo. Em nosso caso, são verdades cósmicas veladas por historietas simbólicas. [13] THINES, G., LEMPEREUR, A. Dicionário Geral das Ciências Humanas. Lisboa: Edições 70, 1984. [14] Mesmo que segredo.


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