Post published:03/03/2014
Este é sem dúvida um tema polêmico do ponto de vista religioso e, principalmente, espiritual!
Para entendermos o lado oculto desta festa mundial, que traz a satisfação e repúdio daqueles que são a favor ou contra tal folia, precisamos, antes, fazer alguns apontamentos que nos remeterão à origem do termo. Neste contexto, as inferências e analogias do carnaval com outras festas ou comemorações da antiguidade enriquecerão nosso registro. Entretanto, precisamos destacar que a nossa visão neste texto não pretende ser absoluta, mas, apenas, servir de objeto de reflexão para os leitores, independente de serem ou não religiosos. Assim, na condição de sacerdote umbandista, não ignoramos que o carnaval já faz parte do “cenário cultural” do povo brasileiro, inclusive, com várias influências dos cultos afro-brasileiros, tais como vestimentas, instrumentos musicais etc.
Indiscutivelmente, hoje o evento se tornou uma ferramenta política, midiática que economicamente movimenta milhões de reais, com reflexos diretos e indiretos na sociedade como um todo.
Inicialmente, creio que a curiosidade da maioria das pessoas seja saber: qual a origem do carnaval? Esse é um ponto bastante divergente entre os vários pesquisadores. Para alguns, a origem estaria relacionada ao Egito, quando celebravam o culto à deusa “Ísis”; ou ao período do êxodo, quando Moisés libertou o povo cativo, que, impaciente, não conseguiu esperá-lo, depois que ele se dirigiu à montanha, a fim de receber os 10 mandamentos, culminando no culto ao bezerro de ouro. Outros acreditam que a comemoração tem relação ancestral com as orgias romanas (bacanais), em torno do deus “Baco”, ou com as festas dionísias, de origem grega, advindas das comemorações em homenagem ao deus do vinho. Também defendem a origem nas lupercais, em reverência ao o deus “Pan”, de Luperco.
Neste aspecto, não podemos esquecer que, em Roma, existia a “saturnália”, comemoração adotada em 590 d.C, em alusão a “Saturnalicius princeps”, o deus “Saturno”, surgindo daí, segundo alguns estudiosos, a “carnis valles”, ou seja, carne nada vale. Tratava-se de um festival no qual imperavam orgias e licenciosidade. Um rei era eleito e somente após entrar na cidade em cima de um carro alegórico (carro navalis), debaixo de muitos confetes, era saudado. Esse era o início das celebrações carnais de concupiscência em que os envolvidos extravasavam desejos, soltando-se sem limites.
Historicamente, sabe-se que o Cristianismo, em 323 d.C, sob forte influência do poderio imperial romano, em defesa dos prosélitos cristãos, tentou adaptar-se ao costume dos povos greco-romanos, que já incomodavam os projetos futuros do clero sacerdotal por entender que as comemorações mencionadas eram festas pagãs, e que iam contra os princípios religiosos da igreja.
Assim, instituiu-se, no dia 25 de dezembro, a data do nascimento do “deus sol”. No dia 1º de janeiro, o “ano novo” e no dia 06 janeiro, a comemoração dos “reis magos”, não nos esquecendo da “quaresma”, tradição católica criada na época de Gregório (o grande), em 560 d.C, que começa na “quarta-feira de cinzas”, para combater a terça-feira gorda (festa da carne), encerrando-se com a “Páscoa”.
Oportuno dizer, neste retrospecto, sobre as influências europeias, mais precisamente italianas e francesas, que persistem até os dias de hoje. Sob tais tendências, os envolvidos, a fim de se deleitarem nos prazeres da carne, escondiam os rostos para não serem identificados, principalmente, porque faziam parte da nobreza etc. Embora essas festas tenham o marco inicial no século XV, com o papa Paulo II e com o sucesso da Comédia Dell’Arte, os bailes de máscaras, com ênfase ao pierrot, colombinas e arlequins, que exaltavam sensualidade, ganharam força nas cidades de Veneza e Florença. Também contribuiu o “entrudo”, no qual os participantes bebiam e comiam até passarem mal.
Talvez a influência mais forte, penso eu, tenha sido herdada pelos brasileiros dos portugueses (sec. XVII, XVIII), em especial das comédias que divertiam a nobreza, surgindo daí o “Rei Momo”. É importante deixar claro que, na época, estas comemorações populares eram violentas (“entrudo”), jogavam-se “porcarias” uns nos outros como urina, ovos, frutas podres etc.
No Brasil, na cidade do Rio de Janeiro, o “entrudo” ganhou novos contornos, no qual usavam água e limões de cheiro, sem contar com a contribuição do português “Zé Pereira” que introduziu o instrumento de percussão (tambor). Chiquinha Gonzaga com a música Abre Alas, que mais adiante influenciou diretamente as festas de salão, por ser maestrina, levou a alegria da rua para os ambientes fechados.
Feitas as devidas considerações históricas, é inegável que a energia da festa carnavalesca, carreada de sons, cores, imagens, sensualidade é envolvente. Por este viés, a musicalidade é fator determinante no carnaval, para fins de envolvimento, porque está carregada da cultura brasileira que evoca tradições, costumes, etnias de um povo que, originalmente, é alegre por natureza. Assim, como já comprovado pela ciência, por meio do estudo do britânico Oliver Salkes (musicoterapeuta), ou do brasileiro Guilherme José Medeiros (psiquiatra e psicanalista), a música reflete a animosidade da alma, despertando os desejos mais profundos…
Desta forma, não deixa de ser uma oportunidade para os hipnotizadores sociais, com segundas intenções, que aproveitam a festa, digo folia, para venderem seus produtos…, cujas ideologias midiáticas quase sempre são econômicas, políticas etc.
Alguns dos leitores devem estar se questionando aonde quero chegar com tudo isso que falei! Respondo: por que será que os governantes se empenham tanto para que esta festa popular aconteça e por que não faltam verbas para financiar as escolas de samba? Os blocos carnavalescos, que espalhados por todo o Brasil, só crescem a cada ano…, será que falta inteligência aos envolvidos para que visualizem o que está por trás de tudo isso, ou será mais fácil fecharmos os olhos para a realidade?
Para não dizerem que somos hipócritas, vamos nos lembrar de dois fatos que nos ajudarão a fazer a reflexão proposta no início do texto. Os episódios que iremos citar aconteceram em um dos desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro, há bem pouco tempo, embora em épocas diferentes. Creio que o primeiro episódio, ocorrido no ano de 2007, a maioria de vocês irá lembrar, até por que foi objeto de divulgação durante vários dias nos telejornais do país. Referiu-se ao carro alegórico com o arquétipo do “Demônio”, da escola Unidos da Tijuca, que pegou fogo, cuja cabeça tombou, ao vivo, impedindo o carro de completar o percurso na passarela da Marquês da Sapucaí, que levou o comentarista da Rede Bandeirantes de televisão a dizer: “em todos os desfiles que entram ou trazem em seus carros imagens profanas…pegam fogo… Coincidências? Para mim, não!” O segundo, foi a homenagem a Francisco Cândido Xavier, no ano de 2011, com o enredo de samba “Quem sou eu sem você”, que obrigou a FEB (Federação Espírita Brasileira) a emitir uma nota de satisfação aos espíritas de todo o Brasil.
Do ponto de vista umbandista, também chamaremos a atenção para o texto de Francisco Rivas Neto (Mestre Arapiaga), intitulado como “Noite de Carnaval”, publicação 11, escrito em 16/02/1989 e divulgado em 15/02/2010, no qual, segundo ele, o carnaval é uma forma de escape, um remédio social, em que os envolvidos cedendo à ilusão, fogem da realidade, que imprime no ser humano a dualidade espírito/matéria, mas que, encerrada a folia, têm que acordar dos sonhos e fantasias.
Pessoalmente, não gostamos do período de carnaval e entendemos que a festa carnavalesca, nos moldes de hoje, encontra-se configurada com inúmeras “personas”, modificando-se, em performances, de região para região, sem perder a sua característica marcante de descaminho para muitos dos foliões, que, inocentemente, deixam-se tombar pela vaidade, luxo, sexo, drogas, que nos remetem à origem das festas pagãs. Neste contexto, embora não seja dono da verdade, talvez estejam certos os que afirmam que o carnaval seja incompatível com os princípios cristãos, pelas evidências anteriores e posteriores, que, identificadas, apoiam o turismo sexual, a divulgação de campanhas políticas questionáveis, o incentivo à sensualidade exagerada, tudo voltado para o entorpecimento dos sentidos humanos.
Quem de nós pode negar que, após a folia carnavalesca, são inúmeras as famílias destruídas, é visível o aumento de dependentes químicos, doenças sexualmente transmissíveis, mortes, prisões, órfãos, acidentes automobilísticos em decorrência de abusos etc.
Ainda, neste diapasão, na condição de sacerdote de um templo umbandista, sabemos que o lado oculto da festa de carnaval é perigoso, espiritualmente, dizendo. Inclusive somos orientados pelos mentores que nos assistem, ou advertidos, quando preciso, a fim de lidarmos com situações que envolvem os médiuns da corrente, bem como os consulentes, após o término desse período.
Lado outro, somos dotados de livre arbítrio. Neste caso, podemos fazer o que quisermos, guiando-nos pela consciência. Para tanto, é oportuno dizer que responderemos pelas escolhas que fizermos, tal como nos ensina a lei… “a semeadura é livre, mas a colheita é obrigatória”.
Iniciamos este texto com o intuito de que o mesmo nos servisse de objeto de reflexão. Assim, pergunto aos leitores: Por que será que, mesmo sabendo das inúmeras consequências negativas que a folia traz, há tanto incentivo financeiro e, na maioria das vezes, inclusive, com a participação de instituições e verbas públicas, e o mesmo não acontece com os projetos sociais positivos? Por que tanta propaganda relacionada à sensualidade, bebida e ao turismo sexual, quem lucra com tudo isso? Como pode o ser humano conciliar espírito e corpo em situações como estas? Será por que os “figurões” da alta sociedade sempre estão em destaque durante este período?
E, finalmente, qual o nosso papel neste cenário? Em que acreditamos? Precisamos ser religiosos para nos darmos conta das consequências negativas que a folia traz para nós, físico e espiritualmente, que, às escâncaras, já não escondem mais suas artimanhas?! Poderíamos citar muitas fontes para pesquisas, mas, para o momento, sugiro ao leitor amigo a leitura de três passagens bíblicas, que contribuirão para o processo de reflexão: Gálatas – Cap. 5, vers. 16-21; Romanos – Cap. 6, vers. 21 e Mateus – Cap. 6, vers. 21-24, retirados da tradição escrita. Nesta linha, também duas obras de cunho mediúnico: “Entre dois Mundos” e “Na fronteira da Loucura”, ambas de Manoel P. de Miranda. Gostaríamos de concluir dizendo que somos livres para pensar, sentir e agir. Então, por que não usar desses atributos? Lembrem-se de que quanto mais esclarecidos formos, mais difícil será aos magos negros, concupiscentes e apologistas das energias livres, dominar-nos.
A energia sexual que permite aflorar a vida é a mesma que, modificada, pode propiciar as guerras em âmbitos físicos e astrais, levando-nos à “morte”… Pensem nisso!
Vida longa a todos.
Luz na mente e paz no coração.
Marashitan. Belo Horizonte – MG 02/03/2014
Correção ortográfica e gramatical Cleane Drumond
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